Pesquisas evidenciam que fatores como espiritualidade, religiosidade e felicidade têm influência positiva na saúde e no bem-estar das pessoas. Esses estudos, com mais de duas décadas, estão levando a um novo paradigma na medicina. A afirmação foi feita pelo médico Fernando Lucchese, diretor do Hospital São Francisco e Santo Antônio da Santa Casa de Porto Alegre, chefe de medicina e cirurgia cardiovascular e professor.
O cardiologista foi o palestrante convidado da reunião-almoço Papo Amigo, nesta quinta-feira (11), evento organizado pela Associação de Dirigentes Cristãos de Empresas (ADCE/POA), na Catedral Metropolitana de Porto Alegre.
Lucchese informa que o assunto é muito importante como objeto de estudos e, deste modo, foi criado, na Sociedade Brasileira de Cardiologia, o Departamento de Espiritualidade e Medicina Cardiovascular. “Ele vem divulgando continuamente publicações científicas, inclusive, vai ser lançado um livro sobre esse assunto”, observa. O médico salienta que o departamento tem como objetivo divulgar tudo aquilo que é científico e separar do não-cientifico”
“Nós estamos vendo uma mudança fantástica junto à Sociedade Brasileira de Cardiologia; por exemplo, os congressos são grandes, reunindo entre 14 a 15 mil cardiologistas, todos demonstrando um grande interesse sobre os aspectos que ligam espiritualidade, felicidade e a vida das pessoas”, cita. Ele destaca, por exemplo, que: “os componentes importantes na vida são, certamente, a longevidade e a felicidade. Isto é o que todos nós queremos, mas, devemos compreender que a espiritualidade e a felicidade são os mecanismos, as ferramentas para chegarmos à longevidade e ao bem-estar”.
De acordo com Lucchese, existe um interesse mundial sobre o enfoque da pesquisa científica e como tirar o melhor contributo da vida. “Espiritualidade refere-se à crença particular do indivíduo, já a religiosidade está ligada a um conceito mais formal, praticamente, um ritual, geralmente, envolve o coletivo”, particulariza.
“Hoje, 84% das pessoas ao redor do mundo têm alguma afiliação religiosa”, diz. Ele completa a sua análise, lembrando que a ampla maioria pode ser beneficiada, com uma abordagem mais particularizada, sobre o sentimento que envolve a crença, ou a religião sobre o processo de cura. “Deste modo, a abordagem médica, neste sentido, pode ser muito benéfica”. As pesquisas científicas já estão levando os médicos a uma nova relação com os pacientes. “Os médicos estão muito mais atentos. Nós estamos no caminho certo”, comemora.
Os estudos, até agora, reunindo a religiosidade e a espiritualidade, mostram dados científicos importantes, salienta Lucchese. “As pessoas vinculadas à religiosidade e à espiritualidade têm menor consumo de álcool, menos depressão – e quando deprimidas, conseguem sair com mais facilidade desse quadro”. O médico acrescenta que estas pessoas apresentam menos estresse e, por outro lado, têm maior longevidade e bem-estar. “Os estudos também mostram que a pressão arterial é mais baixa, o risco cardíaco é menor, assim como, o risco de infarto de angina”, informa.
Lucchese diz que está convencido de que as doenças da alma atingem o corpo e elas estão muito presentes no dia a dia, como: raiva, inveja, pessimismo, egoísmo, medo e solidão, entre outros; todas provocam doenças. “Estudos mostram, por exemplo, que o não perdoar causa mal à saúde”.
Jornal do Comércio – Quais são os pontos mais importantes para a vida das pessoas e que são pesquisados cientificamente?
Fernando Lucchese – Há três componentes importantes na vida das pessoas. A espiritualidade é um deles; o segundo, é a longevidade e a terceira é a felicidade. O ser humano luta pelas três. A espiritualidade é intrínseca, ou seja, ela vem com cada um e de modos variados. A busca da longevidade e a busca da felicidade são 100% organizáveis na cabeça das pessoas. Bom, as três se fundem e este é o grande enfoque dado na área da saúde.
JC – O senhor pode falar sobre a criação de um grupo de estudos?
Lucchese – Nós começamos esse grupo de estudos ao redor dos anos 2000, 2002, por inspiração de um médico norte-americano chamado Harold Koenig, e a partir daí, começamos a trabalhar o tema. Hoje, na Sociedade Brasileira de Cardiologia, temos mil cardiologias membros do Departamento de Espiritualidade e Medicina Cardiovascular, produzindo continuamente livros. Inclusive, estamos produzindo um agora abordando esse assunto. Bom, a felicidade e a longevidade são temas de nossa vida diária, porém, para isto, necessitamos da espiritualidade.
JC – O senhor falou sobre as doenças da alma, como elas afetam a saúde?
Lucchese – Eu estou convencido de que as doenças da alma atingem o corpo e elas estão muito presentes no dia a dia. As doenças da alma têm como componentes, a raiva, a inveja, o pessimismo, o egoísmo, o medo e a solidão, entre outros; todas com grande potencial para provocarem doenças físicas.
Reprodução do texto publicado no site do Jornal do Comércio
Foto: TÂNIA MEINERZ/JC